Nudes em tempos de pandemia? Mande, mas com segurança e #fiqueemcasa!

Por Josemira Reis e Graciela Natansohn

Com a popularização da internet e dos smartphones nos últimos anos, cada vez mais vemos surgir nas redes iniciativas de mulheres e pessoas LGBTQ+ que têm encarado a prática de publicação de nudes como um ato político, como uma forma de assinalar o direito à autonomia sobre seus corpos. Outras encaram como experimentos artísticos e os usam com o objetivo de tensionar os sentidos do que é socialmente etiquetado como pornográfico. E cada vez mais vemos, também, depoimentos de mulheres que encaram a publicação de seus nudes como um ato libertador, de redescoberta e aceitação de seus corpos e das possibilidades de exercício do desejar e ser desejada, independentemente dos estereótipos de beleza, apenas para citar alguns poucos aspectos envolvendo a temática da sexualidade que a internet tem potencializado.

Entretanto, desde o início da adoção de medidas de isolamento social, por conta da pandemia da Covid-19, o que tem chamado atenção é o aumento do envio de nudes e outras tantas práticas de sexting (compartilhamento de material sexualmente explícito por meio eletrônico) com outra finalidade: como alternativa aos obstáculos postos pelo isolamento ao sexo presencial e que – sugerem xs cientistas em uníssono – há ainda de levar meses para se normalizar, senão anos. Em sites de redes sociais como Twitter e Instagram, que permitem a publicação de conteúdo considerado “adulto”, foram diversos os “desafios” e hashtags vinculadas ao tema do erotismo que apareceram como assuntos mais comentados ao longo dos meses de março e abril. Há quem diga que a própria sexualidade terá este momento de pandemia da Covid-19 como um marco de transformação e que as tecnologias digitais serão importantes protagonistas em todo esse processo de reconversão cultural.

Mas, em meio a toda pertinência e complexidade que este debate requer, uma questão tem se mostrado urgente para ativistas pelos direitos digitais de mulheres e população LGBTQ+: a problemática que envolve o uso de dispositivos pouco seguros para práticas que se configuram tão arriscadas em sociedades machistas, como a nossa. Tais dispositivos, mais preocupados com processos massivos de vigilância e comercialização de dados, que com a intimidade das pessoas, pouco têm atentado para os antigos dilemas apontados pelas feministas interseccionais: as vulnerabilidades distintas que os corpos enfrentam em função de suas condições de raça, classe, geração e orientação sexual.

Por isso analisamos os projetos e debates que têm sido produzidos por grupos ciber e hackfeministas sobre a temática e trouxemos destrinchadas 9 dicas, na forma de cards, sobre como enviar aquele nude e reduzir a dor de cabeça, caso venha a se tornar público mesmo sem o seu consentimento.

As publicações estarão disponíveis em breve no projeto #EmCasaComAFacom, em @facom.ufba, e também aqui em nosso site. Acompanhe!

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