Letícia Lopes defende dissertação sobre youtubers ‘crespas’ e ‘cacheadas’

Com a dissertação intitulada “Se baixarmos o ‘volume’, não vão nos ouvir”: as apropriações do YouTube e a performance das mulheres “crespas” e “cacheadas”, a mestranda Letícia Lopes defendeu e teve seu trabalho aprovado nesta manhã (27), na Faculdade de Comunicação da UFBA. Letícia é membra do Grupo de Pesquisa em Gênero, Tecnologias Digitais e Cultura – Gig@.

A pequena sala estava lotada para acompanhar a apresentação da jovem mineira sobre a apropriação da plataforma Youtube por mulheres que abordam em seus vídeos temas relacionados aos cabelos crespos e cacheados. Participaram da defesa, além da orientadora Graciela Natansohn, os examinadores Adriana da Rosa Amaral, da Unisinos, e José Carlos Ribeiro, professor do PósCom da UFBA.

Em sua apresentação, Letícia publicizou o resultado do seu trabalho que objetivava discutir a difusão, a visibilidade e a performance das YouTubers que tem como tema a questão dos cabelos crespos e cacheados. Ela explanou acerca de como esses tipos de cabelo tornam-se objetos simbólicos relacionados à marcadores de raça e gênero. “Acreditamos que essas mulheres contribuem para a ressignificação deste universo invisibilizado pelo alisamento e pelo pouco espaço de representatividade que elas ocupam nas mídias tradicionais”, afirmou. Para a recente mestra as possibilidades oferecidas pela plataforma viabilizam que se crie espaços de falas entrecruzadas nos canais.

A professora doutora Adriana Amaral, que participou por videoconferência, destacou a pertinência do trabalho e seu caráter ativista e arguiu, entre outras coisas, sobre questões metodológicas, elogiando o uso do endereçamento, método de análise geralmente utilizado em produtos audiovisuais tradicionais, que foi aplicado a meios digitais. Adriana também falou sobre a relação entre performance e performatividade, e apontou suas especificidades e relevâncias em um tema que aborda a expressão de si em um ambiente mediatizado com aspectos importantes sobre gênero, cultura e raça.

Já o examinador José Carlos considerou a discussão do trabalho instigante e urgente para referências identitárias, e considerou o trabalho adequado à área de concentração do programa de pós-graduação, com objetivos precisos e boa estruturação. O professor sugeriu que o aumento de buscas pelo tema das crespas e cacheadas não significa necessariamente que haja uma efetiva mudança de comportamento e pensamento sobre a questão dos cabelos, mencionando as astúcias dos usos nos quais usuários têm uma estratégia de utilização dos meios de comunicação para além da racionalidade técnica intrínseca aos modos de usar.

O professor ainda trouxe como tema de pauta a questão etária no trabalho, afirmando que além da questão de raça e gênero há uma diferenciação pelas marcas de idade dos sujeitos. “Mesmo havendo canais que tratam de cabelos brancos a visualização deles é baixíssima, o jovem é a principal referência ali. Pensando de forma interseccional, deveríamos pensar quais outras variáveis estariam envolvidas, acredito que não só o machismo e o racismo, mas também o idadismo”, sugeriu.

Letícia destacou que a questão da vivência das mulheres analisadas transpassam a relação com a mídia digital. Para ela é muito importante a relação das youtubers com a câmera.”Percebemos, ao final da pesquisa, que as youtubers “crespas” e “cacheadas” constituem uma vivência cuja subjetividade se constitui nas telas. O contexto midiatizado em que se inserem faz com que demonstrem uma notável familiaridade com o YouTube e o audiovisual, em um processo recursivo”, sustentou.

Além disso, a pesquisadora percebeu em sua análise que há um esforço por parte dessas youtubers em constituir vínculos, sejam eles em relação umas às outras, ao público ou mesmo aos próprios vídeos dos canais, criando comunidades e reforçando as suas similaridades. “A redescoberta dos cabelos crespos e cacheados é um marco em suas vidas e, para além de algo a ser ‘controlado’, ele é apontado por elas como um elemento a ser redescoberto e externado”, concluiu. 

Duas horas e meia após o início da apresentação, a aprovação do trabalho foi comemorada com palmas após a leitura da ata da defesa. Em conversa após a defesa e feliz com o resultado Letícia comentou sobre a experiencia com a pesquisa. “Senti a defesa foi um processo de síntese. Eu achei desafiador encontrar uma forma de apresentar e responder os pontos colocados porque isso foi como uma conversa, no sentido de que foi um momento em que percebi com mais clareza onde e com o que a minha pesquisa esta dialogando”, afirmou. Para ela a leitura da banca foi fundamental pra apontar caminhos. “O que fica são as  possibilidades de diálogo. A experiência da escrita foi difícil. Foi bem desafiador articular tantas informações de maneira que ficasse interessante e conversasse com a pesquisa. Mas ao mesmo tempo foi muito bom ao ver o texto pronto, poruqe eu acho que ele contemplou bem o que eu queria”, comemorou.

 

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