A agência oficial de notícias argentina Télam na sua edição da última sexta-feira (2) veiculou entrevista com a coordenadora do Grupo de Pesquisa em Gênero, Tecnologias Digitais e Cultura (Gig@/UFBA), Graciela Natansohn. Na matéria intitulada “Para parar a violência contra mulheres, tecemos com fibra ótica, diz especialista”, em tradução livre, a pesquisadora falou com a repórter Silvina Molina sobre vigilância digital, violência de gênero na internet e sobre apropriação tecnológica.
Na entrevista Graciela afirma que a vigilância digital é um tipo de violência específica que ataca a liberdade das mulheres, liberdade de se organizarem, de se expressarem e de manifestar suas dissidências, além de explanar sobre a troca desigual de dados que redunda em um maior controle do corpo feminino, reafirmando a importância das mulheres se apropriarem da tecnologia e não apenas a usarem, participando também nos processos de desenvolvimento.
Leia um trecho da matéria traduzida:
“(…)Existem violências contra as mulheres que não são reconhecidas como tais: a vigilância digital, a violação do direito à intimidade e à privacidade online. E elas são”, afirmou a professora em entrevista ao Télan, durante uma visita que realizou a Buenos Aires.
Exemplificando, detalhou que “se baixa o aplicativo de uma lanterna em seu celular, ele não necessita mais do que acesso à lente, à câmera e nada mais, mas, frequentemente, te pede localização, contato telefônico, acesso às imagens, porque assim vendem os dados. É uma violência contra as mulheres e toda a cidadania”.
A especialista, junto com a jornalista argentina Florencia Goldman – que realiza um mestrado na UFBA sob a orientação de Natansohn –, está indagando sobre a violência contra as mulheres na rede, vigilância e direito à privacidade.
“Com Florencia entramos no Google Play e encontramos centenas de aplicativos que controlam os corpos das mulheres. Não sabemos a quem são vendidos esses dados. Esses apps em espanhol vigiam a menstruação, a ovulação, o peso, os centímetros de distintas partes do corpo… isso é poder total”, analisou.
Diante desta realidade, a profissional considerou que o big data “pode ser muito bom. A compilação de informação não é má, o ruim é a compilação invadindo a privacidade. Essa informação tem que estar a nosso serviço, ser capturada por meios legais e transparentes”.
E como “a informação é poder, a questão é quem o detém. Usar os dados a nosso favor é saber processar essa informação, ter elementos para capturá-la, que não sejam os mesmos instrumentos que já se usam, que sejam transparentes, acessíveis, usando software livres e ferramentas melhoráveis que nos permitam saber o que fazemos, o que pensamos e para onde vamos”, completou a especialista.
(…)
[Graciela] Lembra que em 2010 a preocupava que o movimento feminista “só discutisse os conteúdos online, agora já estamos em outra instância, por exemplo, já estamos mais conscientes da necessidade de aprender códigos de programação, como o faz fortemente o movimento feminista negro no Brasil. Estamos entrando numa etapa 3.0 do feminismo”.
Junto a uma equipe, a profissional está pesquisando “de que maneira o movimento feminista latinoamericano está iniciando uma apropriação da tecnologia digital que vai além dos meros usos, que discuta a própria natureza dos sistemas tecnológicos, isto é, o que permite e o que não permite fazermos… as camadas mais profundas da Internet , não só a superior, de interações e conteúdos. Vamos aprofundar a discussão tecnológica”.
Natansohn é adepta de que se “avance a soberania tecnológica por meio da construção de redes autônomas, livres, que nos protejam e não que nos exponham. Ali que aparecem o trabalho tão importante de mulheres hackers que desenvolvem tecnologias” (…).
A matéria completa pode ser lida aqui.
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