Gig@ no Intercom 2018: como os novos ciberfeminismos latino-americanos podem nos ajudar a pensar uma nova ética digital?

 

O Intercom este ano trouxe como debate principal o tema “Desigualdades, gêneros e comunicação”. Em tempos de eleição, quando o debate sobre gênero e outras questões de justiça social tem visto seus sentidos e narrativas disputados pelos mais diversos segmentos político-ideológicos, dos mais conservadores aos mais progressistas, nada mais pertinente que um dos principais eventos acadêmicos da comunicação acolha esta temática e se proponha a pensar os desafios que as interações mediadas por mulheres e grupos dissidentes suscitam para o nosso campo, não é mesmo? Pois bem, foi pensando em contribuir para engrossar esse caldo agridoce que Graciela Natansohn, coordenadora do Gig@, apresentou na mesa “Gêneros, narrativas de si, performance e afetos”, ocorrida na quarta-feira, 5 de setembro, alguns dos achados parciais da sua mais recente pesquisa, que trata sobre as novas expressões de Ciberfeminismos na América Latina.

Na ocasião, Natansohn – que dividiu a fala com nomes como Carlos Magno Mendonça, da UFMG; Jean-Luc Moriceau, da francesa Télécom e Sônia Caldas Pessoa, da UFMG – apresentou mapeamento de uma série de grupos de mulheres que trazem em comum o fato de desenvolverem suas próprias tecnologias digitais, como forma de buscar saídas para dilemas sociotécnicos que lhes afetam na atualidade, principalmente questões relacionadas à violência e vigilância massiva.

Esses grupos, sugere a pesquisadora, atuariam a partir de uma perspectiva voltada para o que autoras como Carol Gilligan chamam de “ética do cuidado”, que se opõe às tradicionais teorias morais da filosofia, baseadas no ideal do individuo autônomo. A ética feminista, ao contrário, coloca elementos como a comunicação, as relações, as redes e os afetos como lugar central para a construção de valores coletivos. A emergência de movimentos de mulheres baseados no cuidado e seus encontros com artefatos digitais carecem, entretanto, de análises mais criteriosas por parte das pesquisas em comunicação, conclui a autora.

 

Sobre Josemira Reis